domingo, 14 de março de 2010

Ostentação própria

Suor. Cabelo no rosto. Cortinas fechadas. Fumaça.
Olhos semiabertos, retrato de abandono.
Ostentação própria.
O ventilador não consegue dissolver a fumaça de mim.
Neblina. Luzes acesas. Sem foco. Quarto opaco.
Acendi um cigarro, o retrato ficou mais bonito.
Queria ser pintada. Desse jeito. Neste exato momento.
A nostalgia de mãos dadas com o bom gosto. Ficou bonito.
Ostentação própria.
Quanta repetição. Déjà vú. Não sei francês.
Apareço por entre sombras, por trás das cinzas (dos cigarros).
Acima dos lençóis, abaixo da cortina de fumaça.
Cortinas fechadas (de fumaça). Cortinas de fumaça (fechadas).
Cigarro.
O vinho ainda está na taça, marcas de batom no vidro.
Pressão labial. Um gole. Último gole. Único gole.
Não gosto de vinho.
Gostava de você.
Ou era ostentação própria?
O retrato era bonito.
Duas pessoas. Dois egocêntricos num retrato.
Compreensão. Brincadeiras. Faz-de-conta.
Amor. Amor?
Suor e cabelos no rosto - em duas pessoas - amor.
Trata-se tudo de um retrato? Uma vida presa em uma moldura.
Moldurada, pendurada. Vida retratada.
Antes e depois do Amor e do amor. Fiz um painel.
Uma trilha sonora iria bem.
Meus olhos ardem, não posso abrí-los mais.
Mas ainda sou uma alma abandonada.
Ainda estou abandonada por culpa própria.
Ostentação própria. Retratos que pinto de mim.
Ainda estou neste esboço de solidão.
Ainda. Sinto-me bem.

Acabou a tinta.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Não sei o que escrever.











Fui intimada a escrever
Não importava o conteúdo
Desejavam ler
Minhas palavras de veludo
Mas era tudo tão repetitivo
Não conseguia mais
Clássico ou alternativo
Já havia escrito demais

Se era pra falar de amor, do sentimento mais nobre
Se era pra falar de calor, do tecido que cobre
Se era pra falar de vida, do sol e do mar
Se era pra falar de comida, da cebola a fritar
Se era pra falar de sexo, instinto e desejo
Se era pra ser sem nexo, sentidos se esvaindo em um beijo
Se era pra falar de tristeza, de raiva, ira e dor
Se era pra falar de incerteza, dúvida entre "fico" e "vou"
Se era pra falar de saudade, do aperto no coração
Se era pra falar de maldade, da falta de compaixão
Se era pra falar do frio, do corpo tremendo
Se era pra falar do rio, da água correndo
Se era pra falar da morte, poderosa e controladora
Se era pra falar da sorte, sempre a mais desafiadora

Se era pra falar do tudo e do nada
Se era pra jogar o mocinho da sacada
Verso ou prosa
O cravo ou a rosa

Parecia que já estavam todos presentes
E como poderia existir leitores carentes?
Penso que deveria falar do silêncio, do calar
O som da paz, tranquilidade, da harmonia em pleno ar

Era disso que precisavam ler
Será que entenderiam uma folha em branco?
Tudo bem, melhor ser franco
Não tinha ideia do que escrever.




< Aviso aos leitores>

Só volto a postar dia 16.
Obrigada a todas as visitas e comentários, de coração.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Segredos do mar.

I

Eu sei que o mar é azul, que tem ondas, é salgado.
Eu sei que seu branco é espuma
Parece óbvio, mas sei que é molhado.
As ondas passam irredutíveis uma a uma.

O mar parece um deus
O mar devora e abriga os seus
O mar também é tranquilidade
O mar nos lembra saudade.

O mar carrega tanta dor
Lágrimas de desamor
Só de sentir o seu sabor...

Que adianta ser admirado
Por todo casal enamorado?
No fim do dia continua sendo azul, volúvel e salgado.


II

Podia passar a vida toda observando o mar. Era o exemplo mais belo de como tudo funciona num ritmo perfeitamente desajustado. Às vezes as ondas vinham como se cronometradas, às vezes uma engolia a outra.
O mar dava sede, tanta água em minha frente e nenhuma pra beber. Também me trazia um sentimento bom no peito, uma vontade de me apaixonar. Olhar por muito tempo podia dar nostalgia, mas para mim o mar era apenas um estado de espírito. Também era um adjetivo. Sim, um adjetivo...

Eu a chamaria de mar, se me entendesse. Afinal, me afogo em seus olhos. Sinto a força do olhar tempestuoso, assim como a maré alterada por chuvas e luares. E a paz...! A doce-salgada tranquilidade que me passam quando cheios de amor. E é mar essa bipolaridade de pupila.
Eu a chamaria de mar também pelos cabelos. E mais uma vez me afogo. Afogo nas tranças, no aroma. Me afogo por mergulhar em suas ondas.
Eu a chamaria de mar por poder te admirar dias a fio, com seu balanço ao andar, sua solidão disfarçada em verso, sua imensidão sedutora que me convida a nadar.

E o segredo do mar era ser mais infinito que o horizonte que eu podia enxergar.


domingo, 3 de janeiro de 2010

Eu quero é o frio.

Eu quero é o frio
Aquele que me dá na barriga, o arrepio
O frescor do vento
O furacão, o sopro lento
Quero o frio insano
Que te faz querer meu calor humano.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Levo comigo.


Decidi colocar esse ano na gaveta e fechar por um bom tempo. Não que tenha sido tão ruim assim, mas hoje optei por não viver do passado. Levarei comigo apenas o que pude absorver e carregar. Levo o arrepio na pele causado pelo sol e vento de janeiro na praia; Levo a alegria e festividade de fevereiro na avenida; Levo as comemorações familiares de março; Levo as brincadeiras enganosas de abril; Levo o sorriso e o carinho de minha mãe em maio; Levo a fogueira e a comida caseira gostosa de junho; Levo as férias e o descanso tão esperado de julho; Levo o abraço e as lágrimas de meu pai em agosto; Levo as cores das flores de setembro; Levo minha comemoração de mais um ano em outubro; Levo minhas risadas de novembro; Levo a união da família, as ceias, os fogos, os olhos sorridentes, os estouros, as cores e luzes de dezembro.
Levo tudo que posso carregar, tudo que me faz olhar para trás e agradecer. O que for excesso eu deixo. O que for briga, tristeza, injustiça, solidão, eu tranco na gaveta. E não há Pandora nenhuma que as deixe escapar de lá.

> Feliz Ano Novo!